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Asma grave: tratar crise não é tratar a doença

A respiração é uma de nossas ações vitais. Respiramos mais de 10 mil litros de ar em um dia sem nos darmos conta: expirar e inspirar são ações quase automáticas. 

Infelizmente, para grande parcela da população, respirar pode ser um desafio diário. Isso porque doenças do sistema respiratório podem gerar sérias complicações. Há pessoas que têm cansaço extremo ao simples apertar de passos para pegar um ônibus. Para outras, até movimentos rotineiros, como escovar os dentes, causam agonia. 

Uma das doenças respiratórias mais comuns é a asma. Ela atinge mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo e é responsável por 250 mil mortes anualmente. No Brasil, há um dos maiores índices de prevalência: quase 40 milhões de brasileiros convivem com a asma e 2 mil morrem todos os anos. 

A asma é uma doença inflamatória crônica dos brônquios, caracterizada pela obstrução das vias aéreas, podendo produzir excesso de muco, chiado, desconforto no peito e falta de ar. Está dividida em diversos tipos, como alérgica e não alérgica, e intermitente e persistente. A asma intermitente apresenta crises rápidas e sintomas algumas vezes ao mês. Já a persistente pode provocar crises mais longas e sintomas diários. Por isso, é dividida em leve, moderada ou grave. 

A doença pode afetar crianças e adultos. O tipo de asma é diagnosticado por exames específicos, como avaliação da função pulmonar, e por análise do perfil da rotina do paciente. Assim, entender o quanto a asma impacta em suas atividades é fundamental para classificar a gravidade e indicar o tratamento. A asma grave é um dos nossos grandes desafios. Isso porque de 10 a 15% dos pacientes asmáticos não conseguem controlar a doença com medicamentos convencionais, mais eficazes àqueles que apresentam os tipos leve e moderado. 

No Brasil, os asmáticos graves chegam a procurar 15 vezes mais pronto-socorros do que os outros pacientes, e são hospitalizados 20 vezes mais. Esses dados assustam, principalmente porque a dificuldade de controle não está relacionada apenas ao tipo de medicamento, mas também ao acesso a essas terapias, bem como à própria disciplina do paciente. Além de produtos convencionais, já oferecidos pelo governo, uma pessoa com asma grave pode necessitar de abordagens terapêuticas mais inovadoras, como os inibidores de IgE, ainda não disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

É importante destacar que o tratamento da asma grave envolve, adicionalmente, fisioterapia e exercícios respiratórios, cuidado especial com os ambientes e acompanhamento médico. Um professor da faculdade sempre nos dizia: “Quanto mais asma, mais asma”. Na prática, ele estava certo. Quanto menos controlado um paciente estiver, mais crises e intervenções sofrerá. Apesar disso, a disciplina do paciente com asma está aquém do desejado. Tratar uma asma grave é completamente diferente de tratar uma crise grave de asma. Se a crise persiste, é porque o tratamento não está sendo seguido ou não é o adequado. 

Nosso objetivo deve ser sempre tratar e cuidar da doença antes de qualquer internação, para evitá-las ao máximo. Daí a importância de termos uma completa variedade de terapias disponíveis para oferecer aos pacientes a melhor abordagem para tratar todos os tipo de asma. Para se alcançar um controle satisfatório da asma grave, as pessoas e os profissionais em volta do paciente devem estar envolvidos em suas necessidades. E a relação entre médico e paciente deve ser próxima e aberta, garantindo adesão e conforto ao tratamento indicado. Conviver com a asma grave é, acima de tudo, uma questão de disciplina para cuidar de si e do ambiente em que se vive.
Este texto é de autoria do Dr Fábio F. Morato Castro, Presidente da ASBAI - Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, e professor da Universidade de São Paulo (publicado no correio brasiliense)

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