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Fabrício Carpinejar



Amadureci a covardia em sarcasmo.

Posso rir do sofrimento.

Mistérios existem para simular profundidade.

Sou rasa, fútil.

Não reverencio a primavera, a mais sádica das estações.

Desde a infância, ela floresce minha asma.

Posso adiar a morte, nunca o nascimento.

É impossível cortar a semente.



Fabrício Carpinejar é poeta, jornalista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Filho dos poetas Carlos Nejar e Maria Carpi.


Meus irmãos colecionavam selos, moedas,borboletas e revistas.

Eu, silêncios.

A brisa se mistura ao cheiro das lembranças.

É como se eu estivesse regressando.

Posso brincar lá fora?

O pampa é meu pátio.

Como dói a porta fechada por dentro.

Não ter para onde ir é uma forma de sempre chegar.



Fabrício nasceu em Caxias do Sul (RS), Brasil, aos 23 de outubro de 1972. É autor de inúmeros livros, destacando: As Solas do Sol (1998), Um Terno de Pássaros ao Sul (2000), Biografia de uma árvore (2002), Cinco Marias (2004), Meu filho, minha filha (2007). O poeta confirma ser asmático e em vários trechos e depoimentos, demonstra com verve e maestria, como a doença influenciou sua vida. Em entrevista dada em 2006, à revista Época, declarou:


ÉPOCA - Dizem que você já disse que escreve do jeito que escreve por causa da asma. Dá para explicar isso? Sinhô, sambista e poeta, inventou o samba moderno por causa da asma.
CARPINEJAR - A asma me alfabetizou. Aprendi a escrever do jeito que respiro, a pontuar de acordo com o temperamento e humor dos pulmões.
Eu sambo conforme a asma. Meus versos são curtos em função disso.Faço trajetos longos com muitas paradas. Sou um maratonista de haicais.


Transcrevo aqui um trecho publicado em seu site: “Meu avô, como eu, também sofria de asma. Um dia ele me disse: "na falta de ar, toda fresta é janela". Que use agora as frestas para respirar. Depois procure a trava do vidro, em seguida, o trinco da porta, e, por último, a cintura do corpo”.

Em um outro trecho, refere que o ideal seria “rebobinar o pulmão com asma” expressando com exatidão o objetivo deste “Blog da Alergia”: oferecer aos portadores de asma e doenças alérgicas as informações necessárias para que aprendam o controle de sua doença, seja qual for, minimizando sofrimentos, custos, conquistando o direito de viver de forma saudável.


Nada melhor para encerrar, do que um texto do próprio poeta:


“Poesia não é um crime premeditado, em que o escritor forja álibis e procura esconder as pistas. Não sou capaz de dizer: vou escrever um poema. Escrevo como quem existe. Ninguém hesita em existir. Percebo a poesia desde o princípio como um crime passional. É uma explosão de nervos, de música e de pensamento. Surge de um ato solitário, intransferível e altamente singular. Significa matar o amor para que ele sobreviva sem a pieguice. Desbastar o poema para que só fique o essencial. O verso é como uma escultura: o rosto está lá dentro, sendo preciso descobri-lo extraindo pedra. Há quem pense que o texto poético se faz derramando sentimentos no papel, inflamando o ego da namorada, chantageando os amigos com loas, descrevendo as belezas do mundo, com aquela pelúcia própria da hibernação dos ursos (e que só dá alergia!), registrando nossos melhores momentos no diário. É justamente o contrário: não é desabafo, poesia revela a realidade sem intermediários e filtros, uma comoção psíquica, nunca servindo para maquiar ou obscurecer o cotidiano, mas para apanhar os detalhes e as distrações que tornam o leitor mais verdadeiro e intenso“.


Para saber mais, visite o site do poeta:
www.carpinejar.com.br

Comentários

  1. Sou fã de Fabrício Carpinejar...ele agora fez uma cirurgia para corrigir o traumatismo que tinha no nariz há mais de 20 anos....Além da parte estética, o escritor disse que vai "respirar duas vezes melhor" depois do procedimento. "E farejar o destino com precisão", poetisou.

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