Imagine apresentar inchaços pelo corpo várias vezes ao mês e não saber a causa? Você vai ao pronto-socorro, os médicos examinam os sintomas, prescrevem um medicamento para tratar alergia e você é liberado. Alguns dias ou semanas depois tem início uma nova crise e a sua busca para resolver o problema recomeça. Essa é a jornada do paciente com angioedema hereditário (AEH), uma doença rara causada pela deficiência do inibidor de C1 esterase, glicoproteína que atua junto aos anticorpos nas ações inflamatórias do organismo.
Esses inchaços, muito comuns nas alergias, costumam surgir
nas extremidades, como pés, mãos, afetando também os genitais, a face, a
laringe e a região abdominal. De uma maneira geral, as crises duram de cinco a
sete dias e, normalmente, ocorrem sem um motivo aparente. Estresse, mudança de
temperatura, traumas, cirurgias, tratamento dentário e exercícios físicos podem
ser fatores desencadeantes. Apesar de não ter cura, o angioedema hereditário
tem controle e o paciente consegue levar uma vida normal. Porém, a demora do
diagnóstico correto faz a maioria das pessoas sofrer durante vários anos sem o
tratamento adequado.
"Por se tratar de uma doença rara que tem os sintomas
muito parecidos com o de uma alergia, os pacientes demoram, em média, de 14 a
17 anos até ter a definição de que o angioedema hereditário é a causa das
crises", esclarece a médica alergista e imunologista Dra. Anete S.
Grumach, responsável pelo ambulatório de imunologia clínica da Faculdade de
Medicina do Centro Universitário Saúde ABC.
Pelo fato de ser desconhecido da maioria dos profissionais
de saúde, o AEH acaba sendo subdiagnosticado, o que faz com que os pacientes
percorram um longo tempo em busca de tratamento, a partir do surgimento dos
primeiros sinais. Por essa razão, a especialista alerta que é importante ficar
atento aos sintomas desde cedo. "O AEH é hereditário e pode começar a se
manifestar já na infância, por isso os pediatras devem investigar o histórico
familiar do paciente, pois em 80% dos casos outros parentes também têm a
doença", afirma. Segundo Dra. Anete, um dos sinais para diferenciar o
angiodema hereditário de uma alergia, é que o inchaço não vem acompanhado de
placas vermelhas ou outras reações na pele.
A médica explica que a doença deve ser diagnosticada com
base na história clínica do paciente e por meio de exames laboratoriais.
"É imprescindível que o médico peça exames de sangue, como, por exemplo, a
dosagem de C4 que é usado para fazer a triagem de algumas substâncias que
apresentam deficiência e, assim, pode chegar ao AEH". Em média, os
pacientes consultam de quatro a cinco médicos antes de serem corretamente
diagnosticados.
Em quadros mais graves, as crises do angioedema hereditário
podem levar a óbito por asfixia, pois os ataques na laringe obstruem as vias
aéreas. Já as crises abdominais causam dores fortes, vômitos, náusea e
diarreia. "Mais ou menos um terço dos pacientes desenvolvem o que chamamos
de edema de glote. O que significa que eles podem ter dificuldade na respiração
e sofrerem asfixia. É uma doença que pode trazer bastante
comprometimento", destaca a Dra. Anete. Além disso, o AEH prejudica a vida
social do paciente, muitas vezes afastando-o da sua rotina escolar e do seu
emprego.
Segundo a Dra. Anete S. Grumach, os tratamentos para a
doença evoluíram consideravelmente e são utilizados, principalmente, na
prevenção das crises. No entanto, sem o diagnóstico correto, o paciente
continuará sua busca para solucionar o problema. "O principal desafio, sem
dúvida, é a identificação do AEH. Só com o diagnóstico preciso da doença o
paciente, enfim, conseguirá levar uma vida normal", conclui a médica.
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