Pular para o conteúdo principal

IgE nem sempre pode prever uma reação alérgica



Fomos questionados sobre um caso interessante:
- Paciente que teve reação alérgica a camarão (coceira no corpo e língua um pouco inchada, realizou exame para saber se era de fato alérgico a esse alimento e o resultado deu baixo (IgE de 5,03 KU/ml).

Desta forma, recebeu a orientação que não precisaria comprar adrenalina autoinjetável, uma vez que a IgE era baixa e a reação não foi tão grave assim (a rigor, esse paciente nem preenche os critérios de anafilaxia).

Essa pessoa foi passar o Carnaval na praia e quase morreu de anafilaxia por camarão! Teve uma reação fortíssima e precisou ser levado ao hospital, de tão mal que ficou. Felizmente, foi socorrida a tempo e já está bem.

O que teria acontecido?
Como todo exame subsidiário, a IgE precisa ser interpretada. A maioria das pessoas acha que para se fazer um diagnóstico basta um exame, mas exames não dizem tudo. É preciso interpretá-los. No caso de reações alérgicas, uma IgE baixa não significa necessariamente baixo risco. Nem IgE alta significa necessariamente alto risco.

A história clínica é muito importante. Se a pessoa tem história de reação alérgica por um alimento e IgE positiva, independentemente do valor, é altamente provável que essa IgE signifique de fato que aquele alimento seja o responsável pela reação. Nesse caso, independentemente do valor, é muito importante que todas as medidas para se evitar tal alimento sejam tomadas, inclusive prescrição de adrenalina autoinjetável.

Outra coisa: o maior risco para uma reação anafilática grave é reação pregressa, ou seja, se o indivíduo já teve reação anterior, o risco de ter uma outra é grande, embora aqui também haja exceções.

Claro que em muitos casos, IgE alta pode estar relacionada com a gravidade ou com o prognóstico (por exemplo, se a pessoa tem anafilaxia a leite e IgE alta para caseína, é pouco provável que tolere esse alimento, mesmo em preparações culinárias, ou seja, o prognóstico é pior), mas não se pode esperar uma função linear para IgE e sintomas clínicos.

O mesmo vale para se afirmar que IgE alta não é sinônimo de anafilaxia e, infelizmente, muita criança deixa de receber leite ou ovo ou qualquer outro alimento apenas por ter IgE positiva, sem nunca ter apresentado reação alérgica. Isso também não é correto.

Então, para simplificar, podemos dizer o seguinte:

Reação anterior, não espere a próxima!
Pode ser pior, independentemente do valor da IgE.


FONTE: CLIQUE AQUI E VISITE O SITE  ANAFILAXIA BRASIL (onde poderá ler este e outros textos)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Alergias e reações na pele causadas por plantas

A natureza nos presenteia diariamente com plantas e flores proporcionando uma festa não apenas para os olhos mas para todos os sentidos. A sua utilidade prática é indiscutível e múltipla, seja purificando o ar, seja servindo como alimento ou como base para construção de habitações, na manufatura de mobiliário, utensílios, cosméticos, medicamentos, entre tantas outras aplicações. Se apenas tivessem o papel de embelezar, já seriam fundamentais, aliviando a dureza do cotidiano e transmitindo paz numa convivência harmoniosa de longa data com o ser humano. Mas, em algumas situações, a pele pode desenvolver reações quando entra em contato com plantas e daí pode coçar, se tornar vermelha, apresentar uma erupção cutânea e até inflamar. Estas reações surgem pelo contato com a pele, algumas puramente por irritação direta e outras, por mecanismo alérgico. Até mesmo árvores podem produzir um eczema de contato alérgico, sendo o exemplo mais conhecido a Aroeira, uma árvore de madei...

Pitiríase rósea

É uma doença conhecida desde 1860, quando foi descrita por Camille M. Gibert, sendo conhecida também como Pitiríase rósea de Gibert. Não se conhece exatamente a causa, mas parece que a hipótese mais viável é que seja ocasionada por vírus, como por exemplo, o vírus do herpes. Mas, é possível que dependa de uma tendência genética do indivíduo, o que seria um facilitador do aparecimento da doença. Questiona-se também outros mecanismos, envolvendo alguns tipos de medicamentos, autoimune, associação com outras doenças, etc. Fatores psicológicos ou estresse podem facilitar o aparecimento da doença, assim como alterações da imunidade e gravidez. Não é contagiosa. É mais comum em adultos, acometendo mulheres e homens, sendo rara em crianças pequenas e em idosos, ocorrendo preferencialmente na primavera e no outono. O maior problema é que sua evolução pode ser prolongada e durar de semanas a meses, assustando o doente. Em alguns casos pode recidivar, mas não é comum que aconteça Quadro c...

Dermografismo

A bolsa pesada marca o seu braço? A roupa apertada, a alça do soutien, o elástico da roupa faz você coçar e empolar? Atenção: pode ser dermografismo! Dermografismo é uma doença da pele que afeta cerca de 5% da população e que se caracteriza pelo aparecimento de coceira intensa em locais de pressão. Após o ato de coçar surgem “lanhos” vermelhos nas pele. É uma forma de urticária, sendo também chamado de urticária factícia ou urticária falsa.A urticária clássica se caracteriza pelo surgimento de placas avermelhadas que se acompanham de coceira na pele, podendo ter causas variadas, como medicamentos, alimentos, certas doenças, entre outras causas – veja post sobre o tema neste mesmo Blog. No caso do dermografismo, após pressão sobre um determinado local no corpo, a coceira surge em primeiro lugar e só depois de se coçar é que surgem as placas. Por isso, é comum que se inicie em locais onde a roupa aperta, elásticos, alça do soutien. O dermografismo faz parte de um grupo de urticárias deno...