As alergias afetam a vida de mais de 2 bilhões de pessoas no mundo, e com o desmedido aumento ocorrido nos últimos 30 anos, espera-se que, até 2050, cerca de 50% da população sofra de alguma doença alérgica.
Embora exista uma predisposição familiar para o desenvolvimento das alergias, não existe uma explicação única para o fato do mundo estar tornando-se mais alérgico. Um fator importante é a poluição ambiental, com destaques para a fumaça de cigarro e materiais particulados provenientes do tráfego urbano e as queimadas nas áreas rurais.
A vida urbana, com seu estresse, ansiedade e confinamento em ambientes fechados, também é um provável fator envolvido. Assim como a presença em nosso cotidiano dos mais diversos produtos químicos industriais como alimentos ultraprocessados, microplásticos, nanopartículas metálicas, muitos dos quais não sabemos os efeitos a longo prazo.
As alergias respiratórias (asma, rinite), as da pele (como a dermatite atópica) e as alimentares – assim como a perigosa anafilaxia – se tornaram um grande problema de saúde pública. Um dos aspectos mais preocupantes é o aumento exponencial das alergias alimentares. Os alimentos mais envolvidos nestas reações são também os mais comuns, como o leite de vaca e o ovo de galinha nas crianças e crustáceos e peixes em adolescentes e adultos.
No rastro do aumento da alergia alimentar no Brasil, temos assistido também saltos na incidência da anafilaxia. Essa é uma reação alérgica grave, de início súbito e onde pode haver queda de pressão (choque anafilático) e edema de glote (que impede a passagem de ar para os pulmões). O quadro pode ser fatal.
Dados recentes do Registro Brasileiro de Anafilaxia (RBA), criado pela a ASBAI, mostraram que os alimentos foram as causas mais comuns de anafilaxia, representando quase 44% do total de casos registrados.
Outro dado alarmante apontado pelo RBA-ASBAI é que menos de 60% dos pacientes com anafilaxia tratados em setores de emergências receberam adrenalina por via intramuscular. Esse é um medicamento imprescindível no tratamento do choque anafilático e edema de glote, e que precisa ser administrada o mais rapidamente possível. Mas, infelizmente, os brasileiros com anafilaxia ainda não dispõem das canetas autoinjetáveis de adrenalina, que permite o tratamento dessa grave reação por pessoas sem treinamento na área da saúde. Hoje, esses pacientes são obrigados a importar dispositivos a preços elevados, enfrentando dificuldades burocráticas para aquisição dos mesmos.
A ASBAI está envolvida e vem apoiando o projeto de lei 85/2024 que “Dispõe sobre fornecimento gratuito da caneta de adrenalina autoinjetável pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O impressionante aumento das alergias é um alerta para todos nós. Não há mais tempo a perder: devemos agir hoje para reduzir a exposição à poluição e promover ambientes mais limpos e estilo de vida saudável.
Por Fábio Chigres Kuschnir, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia: Asbai
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