A cortisona pode ser considerada um milagre terapêutico do século 20 para o tratamento das doenças alérgicas. Doenças como asma, urticária, farmacodermia, anafilaxia e varias outras manifestações de alergia, antes potencialmente fatais, tiveram seu prognóstico mais ameno desde que este medicamento foi introduzido no mercado.
Entretanto, mesmo após mais de meio século de inestimáveis benefícios, o emprego da cortisona ainda provoca questionamento na população alérgica ou até mesmo em boa parte da classe medica. Em parte porque, sendo um medicamento hormonal, pode determinar o aparecimento de efeitos adversos (felizmente reversíveis em sua grande maioria, quando a droga é convenientemente utilizada).
Vale ressaltar que não existe medicamento sem algum tipo de efeito adverso. Um simples analgésico usado por milhões de pessoas no mundo pode ser causa de morte para aqueles suscetíveis. A cortisona, do ponto de vista “benefício versus risco”, quando corretamente aplicados no tratamento de doenças alérgicas, constitui um medicamento seguro e mesmo imprescindível.
Quando se fala em idosos portadores de manifestações alérgicas, a utilização da cortisona precisa ser criteriosamente avaliada, reservada para pessoas realmente necessitadas e sob supervisão médica. Em geral, os idosos têm outras manifestações patológicas além da alergia, nas quais os esteroides podem interferir. Mas, não significa que os corticóides não possam ser utilizados após os 60 anos de idade. Neste caso, precisam ser cuidadosamente empregados para não haver interferência com outras doenças onde poderiam interferir de maneira negativa.
No caso dos corticosteroides para uso sistêmico, ou seja, em forma de comprimidos, xaropes ou injeções, devem ser indicados nas situações clinicas de absoluta necessidade e por tempo o mais limitado possível. Mas, o ideal seria que estes medicamentos tivessem sua venda controlada, como acontece com os antibióticos. Ressalta-se que uma falha terapêutica grave é a utilização de injeção de cortisona de deposito, de ação prolongada, quando não se tem noção exata da eficiência da medicação e nem do tempo necessário para sua eliminação.
Modernamente, surgiram os corticosteróides para uso inalado para tratamento de controle da asma e para uso intranasal no tratamento da rinite alérgica. Inicialmente foram lançados sob a forma de sprays (“bombinhas”) e mais recentemente, na forma de inaladores. Estes medicamentos possuem uma característica especial, pois são formulados em doses mínimas (microgramas), proporcionando uma ação direta nas vias respiratórias, com mínima interferência no resto do organismo e com outras medicações. Por isto, a cortisona sob a forma inalada é de extrema utilidade para pacientes alérgicos, muito bem aceita por médicos e pacientes, controlando eficientemente sintomas nasais e brônquicos.
Da mesma forma, cremes, pomadas e loções contendo corticoides tópicos (para uso na pele) são eficazes e seguros.
Em resumo, corticoides inalados e cutâneos, podem oferecer o máximo de benefícios e o mínimo de efeitos adversos, constituindo portanto, uma medicação ideal para pacientes idosos com sintomas alérgicos. A avaliação do beneficio terapêutico e do risco de efeitos colaterais dos corticoides sistêmicos é prerrogativa do médico alergista em consonância com o clínico assistente do idoso. O que não pode acontecer é dispensar uma terapêutica fundamental para o controle de uma manifestação alérgica que possa evoluir para uma situação irreversível, apenas pelo temor de uma reação adversa.
A equipe da Clínica de Alergia da Policlínica Geral do Rio de Janeiro lançou o livro "Alergia no idoso - Aspectos Clínicos", destinado para médicos geriatras e clínicos.
Este texto é de autoria do Dr Magalhães Rios, diretor do Serviço e coordenador do "Projeto de atendimento especial aos alérgicos da terceira idade".
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