Deduzo que por esta altura já todos terão chegado à conclusão de que hoje vos vou falar sobre… a minha prima – essa infame criatura. Toda a minha família é um caso curioso, mas a minha prima ultrapassa de longe o limiar da curiosidade (e não o digo no sentido apreciativo da coisa). O irónico é que… eu nem tenho primas. Imagino que agora esteja razoavelmente baralhado. Adoraria poder reconfortá-lo e dizer-lhe que vou resolver o seu problema – mas a verdade é que não vou. Lamento.
Apesar de a minha árvore genealógica me dizer claramente que não tenho primos, a Mãe Natureza insiste em contrariar a genética e os dados científicos, e presenteou-me com uma tal de Prima Vera. Por norma, eu ficaria extremamente feliz por ter um novo membro na minha família, mas não é este o caso. É que esta tal de Vera que se afirma minha prima – em primeiro grau e tudo, diz ela – não é flor que se cheire (literalmente).
Em primeiro lugar, anda desaparecida durante nove meses, todos os anos. E depois só dá sinais de vida nos restantes três – sempre na mesma altura. No primeiro ano em que isto aconteceu, pensei que ela tivesse, finalmente, ganho algum juízo: talvez tivesse encontrado o homem perfeito e resolvesse ter um filho. Quem sabe tinha decidido passar aqueles nove meses de gestação num qualquer lugar longínquo e paradisíaco. Pareceu-me compreensível na altura. Se bem que não lhe fazia mal nenhum avisar os familiares. Afinal de contas… a Mãe Natureza criou-nos uma relação fictícia de consanguinidade para alguma coisa, não é? Haja o mínimo de respeitinho pela falsa consanguinidade que nos une, querida prima.
Seja como for, até lhe tinha comprado um babeiro engraçadíssimo, com a cara do Pateta e tudo. Era uma fofura. Mas não é que a Vera regressa passados os nove meses, sem homem perfeito, sem criança, e sem justificação alguma? E a coisa foi-se repetindo: estava connosco três meses, depois desaparecia nos restantes nove. A teoria da gravidez foi rapidamente excluída. Aliás, eu sempre soube que a minha prima Vera era uma galdéria, mas não a esse ponto.
E como se isto já não bastasse, de cada vez que nos presentava com a sua presença, trazia com ela gripes, constipações, alergias e rinite alérgica. Que raio de prima é que nos oferece muco como souvenir? Se eu estivesse fora durante nove meses, oferecia à família, na pior das hipóteses, uma daquelas camisolas que dizem: I love [inserir aqui o nome de uma cidade qualquer] e que se vendem a três euros no aeroporto. Ou meias, sei lá. Toda a gente precisa de meias. Agora de ranho é que não!
Todos estes fatores fazem da Primavera uma estação detestável. Com ela, vem o pólen das flores, o spray nasal e as despesas acumuladas em pacotes de lenços. Querida prima: por favor dá ouvidos à genética e não voltes… … a não ser que eu precise de um rim e tu sejas compatível.
Caras pessoas que me leem: caso, por alguma razão, tencionem subornar a autora deste texto, permitam-me que vos deixe uma sugestão… chocolates. Montes e montes deles.
Cronica de Joana Camacho
Enviada pelo leitor Diogo Silva
Apesar de a minha árvore genealógica me dizer claramente que não tenho primos, a Mãe Natureza insiste em contrariar a genética e os dados científicos, e presenteou-me com uma tal de Prima Vera. Por norma, eu ficaria extremamente feliz por ter um novo membro na minha família, mas não é este o caso. É que esta tal de Vera que se afirma minha prima – em primeiro grau e tudo, diz ela – não é flor que se cheire (literalmente).
Em primeiro lugar, anda desaparecida durante nove meses, todos os anos. E depois só dá sinais de vida nos restantes três – sempre na mesma altura. No primeiro ano em que isto aconteceu, pensei que ela tivesse, finalmente, ganho algum juízo: talvez tivesse encontrado o homem perfeito e resolvesse ter um filho. Quem sabe tinha decidido passar aqueles nove meses de gestação num qualquer lugar longínquo e paradisíaco. Pareceu-me compreensível na altura. Se bem que não lhe fazia mal nenhum avisar os familiares. Afinal de contas… a Mãe Natureza criou-nos uma relação fictícia de consanguinidade para alguma coisa, não é? Haja o mínimo de respeitinho pela falsa consanguinidade que nos une, querida prima.
Seja como for, até lhe tinha comprado um babeiro engraçadíssimo, com a cara do Pateta e tudo. Era uma fofura. Mas não é que a Vera regressa passados os nove meses, sem homem perfeito, sem criança, e sem justificação alguma? E a coisa foi-se repetindo: estava connosco três meses, depois desaparecia nos restantes nove. A teoria da gravidez foi rapidamente excluída. Aliás, eu sempre soube que a minha prima Vera era uma galdéria, mas não a esse ponto.
E como se isto já não bastasse, de cada vez que nos presentava com a sua presença, trazia com ela gripes, constipações, alergias e rinite alérgica. Que raio de prima é que nos oferece muco como souvenir? Se eu estivesse fora durante nove meses, oferecia à família, na pior das hipóteses, uma daquelas camisolas que dizem: I love [inserir aqui o nome de uma cidade qualquer] e que se vendem a três euros no aeroporto. Ou meias, sei lá. Toda a gente precisa de meias. Agora de ranho é que não!
Todos estes fatores fazem da Primavera uma estação detestável. Com ela, vem o pólen das flores, o spray nasal e as despesas acumuladas em pacotes de lenços. Querida prima: por favor dá ouvidos à genética e não voltes… … a não ser que eu precise de um rim e tu sejas compatível.
Caras pessoas que me leem: caso, por alguma razão, tencionem subornar a autora deste texto, permitam-me que vos deixe uma sugestão… chocolates. Montes e montes deles.
Cronica de Joana Camacho
Enviada pelo leitor Diogo Silva
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