Com objetivo de esclarecer a relação entre a qualidade do ar em ambientes internos de trabalho com a saúde das pessoas que freqüentam esses locais, o alergista José Luiz Rios, doutorando da UFRJ e médico da Clínica de Alergia da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, aponta em sua tese uma série de fatores que favorecem a manifestação de alergias respiratórias. Seu estudo, feito em conjunto com José Laerte Boechat, também alergista, traz à luz os elementos que podem contribuir para que, nesses ambientes cujo controle do ar é feito de forma artificial, haja não o surgimento, mas o desencadeamento de doenças respiratórias crônicas.
Em ambientes fechados, onde a troca e renovação do ar são baixas ou inexistentes, gera-se um acúmulo significativo de poluentes, trazendo para os trabalhadores, que costumam permanecer em torno de 8 a 10 horas dentro do local onde atuam sintomas respiratórios alérgicos. José Luiz Rios destaca que a qualidade do ar pode provocar diversas manifestações na área respiratória:
– Os sintomas podem ser respiratórios nasais, como a obstrução, corisa, espirros, lacrimejamento, coceiras nos olhos, ardência, ou ainda sintomas respiratórios baixos como tosse, falta de ar, sintomas de asma, chiado no peito, entre outros.
O foco da pesquisa é estudar as doenças respiratórias que tem relação com o ambiente. Rinite, sinusite, conjuntivite e, do ponto de vista das vias baixas, bronquite e asma, que representam a mesma coisa.
– A asma é uma doença que tem um conceito estigmatizado na cabeça das pessoas, por ser ligada diretamente a crises graves de falta de ar, mas na verdade o nome da asma é "asma brônquica" e pode ter níveis variados de gravidade, mudando de indivíduo para indivíduo. Como a asma é uma doença inflamatória dos brônquios, se cunhou o termo bronquite, que seria essa inflamação, mas bronquite asmática ou asma brônquica são a mesma doença.
A pesquisa, desenvolvida no Setor de Ciências Pneumológicas do Programa de Pós-graduação em Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ, possui duas vertentes, racionalizando a apuração dos dados: de um lado é feita a análise de dois prédios; um selado e refrigerado artificialmente, outro não selado e ventilado naturalmente, sendo um edifício mais antigo, mas que possui, também, algumas salas com refrigeração - porém, nesse caso, a refrigeração é periférica e há troca e circulação de ar entre ambiente interno e externo. Na outra extensão da pesquisa é feito o estudo da repercussão da qualidade do ar, nos ambientes anteriormente analisados, na saúde respiratória de trabalhadores.
– No primeiro caso, em parceria com o Instituto de Química da UFRJ, nos focamos na qualidade do ar desses prédios, colhendo algumas amostras para verificar os compostos químicos presentes, os compostos orgânicos voláteis, a temperatura, o nível de gás carbônico, de monóxido de carbono e de materiais particulados. Do outro lado, que configura melhor a minha área de especialização, estudamos a saúde dos indivíduos. No primeiro momento fizemos isso por meio de um questionário de sintomas que foi repassado aos funcionários expostos às condições de cada ambiente e, agora, estamos fazendo exames médicos nesses funcionários - teste alérgico, prova de função respiratória e um exame de sangue simples –, complementa.
Retomando a questão da influência do ambiente na manifestação da alergia, José Luiz Rios explica que existe um termo antigo que é “síndrome do edifício doente”. “Quando se fala desse edifício, que é um local onde as condições internas são inadequadas para o ser humano, temos duas fontes de problema. O de origem microbiológica, com algumas bactérias se proliferado, por exemplo, nas bandejas do ar-condicionado, ou nos dutos deste e que poderiam causar doenças respiratórias no alérgico, ou podemos ter também algumas formas de pneumonia típica, tendo a mesma propagação de micro-epidemias: uma pessoa gripada pode disseminar a gripe devido à circulação do ar. Esse ambiente faz, inclusive, da questão do tabagismo um problema muito sério, porque não há um lugar reservado para que os fumantes façam uso; onde quer que se fume o ar re-circula e todos acabam fumando com ele. Contudo, é importante ressaltar que o espaço lacrado não gera o problema, apenas propicia sua manifestação, como esclarece o doutor José Luiz.
– O indivíduo precisa ter uma predisposição. Na minha tese de mestrado, que era sobre ambientes externos influenciando alergias respiratórias, já havia estudos apontando que a poluição do ambiente influenciaria no aumento do número de indivíduos alérgicos. Mas em termos de ambiente interno não há estudos que comprovem isso. A alergia, para se manifestar, precisa da conjugação de dois elementos. Um deles seria a existência de uma carga genética que predisponha a pessoa a isso, ou seja, família alérgica, e a outra é a exposição ambiental que possa suscitar a genética, fazendo esses sintomas se apresentarem.
Muitas vezes atendemos pessoas no consultório que dizem nunca ter tido alergia e que, de um tempo para cá, manifestaram os sintomas, por exemplo, de uma rinite. Na verdade ele já era um alérgico que não se manifestava e devido a maior exposição a um ambiente inadequado, apresentou os sintomas.
Julianna Sá (Coordenadoria de Comunicação da UFRJ)
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